Tuesday, October 30, 2007

Compras & Recolha

Uma tarde de compras pelas Ramblas e pelo Bairro Gótico com a Joana serviu para aprender várias dicas.

O que se deve ou não fazer nas compras, segundo Joana Francisco:
  1. Olhar para todos os cantos e focar na zona onde diz "Promoções" ou neste caso "Rebajas". Também pode estar algum letreiro com 2,95 € ou 4,95 € que consoante o que esteja lá, pode ou não ser tentador (normalmente é sempre).
  2. Reserva o que estiveres em dúvida. "Sabias que, segundo um estudo de Marketing, só 30% das pessoas é que volta a buscar o que deixou reservado?".
  3. Lembrar de tudo o que já temos em casa.

Depois desta pequenina lição de compras, fomos para casa (apesar de tudo com alguns sacos nas mãos) e estávamos quase, quase a chegar quando olhámos para um monte de coisas que alguém tinha jogado fora. Entre bolas de Natal, fotografias, pratos e muitas outras porcarias conseguimos encontrar algumas coisas giras, entre as quais uns patins que são exactamente o meu número (e ia eu mandar vir os meus de Portugal), uns dossiers e uma almofada de sofá. Também havia umas calças Levi's 550 mas como estavam com ar de quem já tinha andado em algum rabo de homem das obras achei melhor não as trazer.

Aqui em Barcelona há um dia específico para cada bairro em que as pessoas põem na rua o que já não querem e as outras vão lá buscar. Encontra-se imensa coisa gira e em bom estado, temos de ficar mais atentas.

Monday, October 29, 2007

Vagabundear

Ontem à noite deu-me uma vontade enorme de sair de casa e passear. Não importava onde, mas tinha de apanhar frio na cara e sentir o vento a desenlear-me os cabelos. Saí para ir levar o lixo e continuei a caminhar enquanto ouvia música. É tão diferente a maneira como se olha a rua consoante a música que se ouve. É que muda tudo, mudam as cores, mudam as expressões das pessoas, mudam os lugares das coisas, mudam os sentimentos. Fui até à Praça de Espanha e depois segui em direcção ao Palácio Nacional, que estava todo iluminado. À vinda para cá, passei por um portão que dá acesso à Fira de Barcelona e do outro lado estava um gato preto e branco. Parei a olhar para ele e ele também parou a olhar para mim. Ficámos assim os dois, parados a olhar, talvez a descobrir-nos, até que ele, com toda a simplicidade, virou costas e seguiu a sua vida. Admiro a independência dos gatos e fiquei feliz com aquela troca de olhares. Prosseguia a minha volta a casa quando vejo alguém sentado num banco. E sorri. Não sei porque sorri, apenas soube bem sorrir. Sem porquês. Porque não sorrir quando nos apetece?

Já em casa foi dificil adormecer, acho que preferia ter passado a noite a vagabundear.

Saturday, October 27, 2007

Querido Yuri

Decidimos alugar o nosso corredor ao Yuri. Ele estava tão abandonado e tão perdido que não podiamos recusar. Somos boas pessoas, que podemos fazer?

Fomos ao supermercado e vinhamos carregadissimas de sacos. Olhámos umas para as outras, era impossivel levar todos aqueles sacos numa viagem, talvez até nem chegassem duas e, então, decidimos levar o carrinho do Dia connosco. O nosso querido Yuri.

E agora damos-lhe guarida e cada vez que precisamos dele sabemos que está sempre lá para nós. É um bom amigo.

Wednesday, October 24, 2007

Começou o frio.

Acordei de manhã cedo para ir às aulas. Olhei a janela e a claridade estava feita de luz baça e ténue. Fazia frio lá fora. Vesti o meu casaco preto, de Inverno, e apertei-o bem contra mim para que não entrasse nem um bocadinho de frio.
Hoje é daqueles dias que só apetece ficar na cama a ler e a comer chocolates com alguém bem quentinho e enroscadinho em ti...

Lembrei-me do meu banho de chuva. Já não sei quando foi, ando um pouco perdida na barra cronológica, mas talvez o quando também não seja o mais importante.

Estava nas Ramblas e olho para o céu, como aliás costumo fazer, gosto de observar o céu, e vi que uma tempestade se aproximava. Não quis saber e continuei o meu caminho até ao fim das Ramblas, onde depois há um porto. A vontade de ver o mar tinha aparecido logo pela manhã e não era uma tempestade que me ia demover, até porque o mar e a chuva são dois amantes que não se deixam intimidar por observadores.

Remei contra a maré, já que toda a gente corria em direcção ao metro, ou aos prédios mais próximos, e fiquei sossegada em frente ao mar. A chuva caía em bátegas enormes, as gotas eram grossas e espaçadas e parecia que não me conseguiam atingir. Fiquei ali, não sei por quanto tempo, o suficiente para as minhas roupas escurecerem, a ver a chuva cair forte e o mar a flutuar sereno, como se nada fosse com ele. Ela bem queria chamar a sua atenção, cada vez mais insistente, cada vez mais agressiva, mas ele continuava o seu caminho, sem sequer reparar na sua existência. Naquele dia, foram dois amantes perdidos.

Voltei costas e caminhei em direcção ao metro com um sorriso nos lábios.

Tuesday, October 23, 2007

La belleza es tu cabeza

Esta foi a primeira frase que eu reparei assim que cheguei a Barcelona, graffitada num quadro de electricidade.

E de repente, já passou um mês desde que cheguei. Foi tudo tão rápido, o tempo aqui passa depressa mas ao mesmo tempo parece que já aqui estou há um ano. Como é possível haver dois tempos paralelos? Sensação estranha em que as horas passam rápido e os dias lentamente (ou será o contrário?).

Quando chegámos, no dia 13 de Setembro, dirigimo-nos logo com todas as nossas (muitas) malas para a nossa casa, que tinha sido arranjada pela Internet. Fomos em direcção ao Carrer Alegre de Dalt e o nome até parecia adequado. Entrámos de malas na porta que nos parecia ser a casa mas...

"Esto es una Escuela de Dansa!"
"Escuela de Dansa?"

Bom...Já se vê que a porta não era esta mas sim a do lado, ou melhor, era o portão verde garrafa do lado. Sim, portão tipo armazém mesmo. Entretanto, chegou o Alejandro (Alexandre para os amigos) todo simpático e muito espanhol. Abriu-nos o portão e passámos para uma espécie de sala de espera com pouca luz, um banco à direita, uma mesa com revistas e, ao fundo (que não era tão fundo quanto possam pensar), umas escadas e um elevador. De cargas.
Pousámos (o Alexandre pousou) as malas no elevador e lá subimos a escadaria. Já lá em cima, uma porta, também ela verde garrafa, aguardava-nos ansiosa. Abriu-se, e qual não foi o nosso espanto quando não vimos um apartamento mas antes um corredor, em jeito de hotel, com cinco portas. As cinco Grácias!

Estas portas fizeram-me lembrar aqueles sonhos em que estás sozinho e tens de escolher uma das portas que depois se abre para um feixe de luz que faz doer os olhos e... Bem adiante! Depois da pequena surpresa entrámos na bela da Grácia 3, também conhecida por Kafofo, e mal pusemos um pé lá dentro já estávamos na sala e na cozinha.

Passo a explicar a arquitectura da Grácia 3: o quadrado que se apresentava à nossa frente, a sala portanto, não devia ter mais do que 7 m2 (e já estou a exagerar, digamos que as nossas malas forraram o chão) e estava recheada com um sofá, uma televisão que, inclusivamente se esticassemos os pés podiamos mudar de canais com os dedos, uma mesa branca toda dobrada com bancos incorporados que supostamente deveriamos abrir para as refeições mas que foi usada uma vez, uma pequena mesa colada ao sofá e, depois de dois passos, a cozinha ou a parede-cozinha-colada-à-porta-rua-aka-corredor, que possuia um lavatório e um frigorifico para anões (no congelador cabia um bife). Do lado esquerdo, uma porta que dava para o quarto, um outro quadrado com uma cama e um beliche, duas cómodas e um armário, vulgo cabides pendurados numa espécie de corrimão. Em frente, a casa-de-banho e do lado direito umas escadas em caracol que davam para o quarto de cima, onde estavam outras duas camas.
Todas as janelas (a da sala e do quarto de baixo já que a do quarto de cima dava para a própria casa) davam para o pátio da Escuela de Dansa e a da sala dava de caras para o escritório de um senhor pelo que andar de soutien pela casa estava fora de questão.

(Já vos disse que duas pessoas numa mesma divisão lotava a casa?)

Os primeiros dias foram passados a ver casas na Internet, a andar pelas ruas e a passar por cada agência que encontrávamos. Ah sim! E a fugir do Alexandre! Foi, sem dúvida, uma semana dificil. O cansaço começava a entranhar-se nos músculos, o desespero a apoderar-se da alma e as saudades a domarem o coração. A esperança de encontrar uma boa casa ia-se esvaindo e a solidão corroía a contade de ficar por Barcelona, embora desistir nunca tenha sido uma hipótese efectiva. De mais a mais, a cada passo por estas ruas, via que é uma cidade linda para se morar, os edificios são antigos, mas não velhos, e a arquitectura faz-me lembrar casas senhoriais, cheias de histórias para contar, cheias de horas de vida.

Na Grácia 3, nenhuma de nós tinha desfeito as malas e isso fazia-me sentir como se não estivesse em casa. Além disso, sou uma pessoa que joga na defensiva, primeiro observa e só depois se dá e, por isso, ainda não me sentia plenamente integrada e o facto de não termos privacidade também não ajudava. Ouvia-se tudo, até mesmo os vizinhos, aliás a Vera teve uma discussão entre paredes com as mexicanas.Um stress!

No entanto, depois de muitas horas a palmilhar Barcelona, encontrámos (FINALMENTE!) uma casa! E agora? Como dizer ao Alexandre? Bom, quando ele foi lá pedir a renda ganhámos coragem e lá dissemos que não aguentávamos vida de sardinhas enlatadas durante cinco meses. A reacção foi surpreendente, disse qté que já esperava (!!!) e que teríamos de sair dia 25.

No dia 25, que era o meu primeiro dia de aulas, estava a levantar-me para sair de casa (tinhamos combinado fazer as mudanças à tarde, até porque só às 19h00 a outra casa estava disponível) quando tocaram insistentemente à campainha. Era o Alexandre a mandar-nos embora, o sacana! Tinhamos de sair até às 13h00 (eram 11h00) porque ia para lá gente (mais uns enganados...). P Â N I C O! Acabar de fazer as malas, lavar a pilha de loiça, telefonar à senhora da agência, chamar um táxi, inspira, respira.
As senhoras da outra agência disseram que podiamos ir deixar as malas lá e, então, seguimos no táxi. Bem, não todas, já que a Maria foi de mota com o Alexandre e uma das minhas malas.
Assim que chegámos à agência disseram-nos que afinal não podiamos deixar lá ficar as malas e que se quisessemos para irmos já para a casa. Brincamos? Ia matando a mulher! Inspiraaaa, respiraaaaa. Mas tudo bem, lá fomos e, enfim, chegámos a casa.

A nova casa também é pequena mas tem três quartos e cozinha, a decoração é gira, tudo made in IKEA. O meu quarto é o primeiro à esquerda, em frente está a sala que dá para o quarto da Joana e da Maria, à esquerda do meu quarto a cozinha, depois o quarto da Vera e a casa de banho. O barulho é o pior, a Avenida é de loucos, sempre a passarem ambulâncias e, para mal dos nossos pecados, há um prédio em construção precisamente ao nosso lado o que significa barulho à séria das 7h00 às 19h00 (com pausa para almoço, vá). Além do mais, do meu quarto oiço o elevador que sobe e desde a cada minuto e, estando nós no último andar, o 7º, aquilo mais parece um OVNI a levitar que outra coisa.

Neste mês que passou, já comecei as aulas e pude ver que é tudo muito práctico, o que é óptimo, temos material para todos, um estúdio, câmaras, etc., e, apesar de ser tudo mais virado para a televisão e cinema e eu preferir jornalismo, estou a gostar.
Nas duas primeiras semanas de aulas andava completamente à nora, ia a várias aulas para ver quais as que me interessavam mais e quais as mais acessíveis. Acabei por alterar o meu Plano de Estudos quase todo mas valeu a pena porque uma coisa é escolher as cadeiras pelo nome que parece mais giro, outra é assistir às aulas e ver o que se passa realmente, para além de que tentei evitar o catalão, tarefa impossível (fiquei com 3 de 2, em catalão).

A Faculdade fica a 15 minutos da minha casa (a pé + metro) e é no centro da cidade, nas Ramblas, o que é fantástico porque de lá posso ir para onde quiser (incluindo as lojas no Bairro Gótico e outras perto do MACBA que são de perder a cabeça). Os professores são porreiros e aos Erasmus facilitam-nos um pouco a avaliação mas no geral os catalães são um bocado fechados. Já conheci alguns, e também alguns Erasmus, mas nada de mais.

As festas e saídas à noite dão sempre para conhecer imensa gente mas são daqueles encontros imediatos que no dia seguinte já não falamos... Fui a duas festas Erasmus no Pacha, a uma no Santa Loucura, saí três vezes (ou quatro?) para o Fellini já que conhecemos uns portugueses que estão lá a distribuir flyers, fui ao Apollo, onde aprendi o que é tecno-minimalism (adorei a música), que é perto de casa e é uma sala de teatro enorme que, se estiveres lá em cima, podes observar a multidão, esta é, sem dúvida, uma das melhores discotecas de cá. A outra discoteca que também nos disseram que era a melhor, o Razmatazz, fomos em dia de Miss Kitten o que foi um erro, pois mal nos mexiamos e acabámos por vir embora lá para as 4h00.
Quanto a bares, já fomos ao famoso Oveja Negra, onde aprendi a gostar de sangria, que é um bar mais para Erasmus com mesas e bancos corridos e sem música, fomos também ao Cifó, um bar no bairro do Raval cuja porta de entrada se parece com uma arca frigorifica. Em Barcelona, os bares são obrigados a fechar às 2 da manhã, mas há um bar no Raval (que é um bairro menos seguro de cá) que está aberto à porta fechada, isto é, entramos lá para dentro com muito cuidado e o senhor fecha a porta que é do género de uma garagem. Lá dentro, aquilo fez-me lembrar os bares de pescadores mas com gente a mais.
De qualquer maneira, ainda temos de descobrir bares com bebidas baratas (aqui as bebidas são carissimas!), tascas com minis e tremoços e caracóis! (E viva o espirito tuga que eu já tenho saudades!). Ah sim! E discotecas de drum n' bass!

Na última sexta feira, fomos a uma fiesta de piso! Passo a explicar: alguém dá a casa (menos uma!) e toda a gente vai para lá conviver, beber, o que seja. A casa da Nicole, a holandesa que ofereceu a casa e que é amiga da Joana, ficou literalmente alagada em sangria e os vizinhos andavam a tentar acertar com baldes de àgua a quem ia saindo.
Falei com imensa gente, tudo em português, menos com a Joana... "Puedo sentarme?". E imaginem, encontrei um rapaz de Setúbal! Mundinho pequeno este. Além disso, aprendi asneiras eslovenas com o castiço do Uros, um esloveno que veio com a namorada, Anya, e que formam, como diz a Joana, o casal pipoca.

E pronto por hoje é só (!). Ainda tenho mais coisas para contar deste mês mas vou adicionando o que me lembrar nos posts futuros que agora, finalmente, vão ser regulares, eu prometo!

OUF!

Saturday, October 6, 2007

Atrasos

Sei que já passou quase um mês desde que vim para Barcelona mas o ritmo nesta cidade é avassalador e a isso se deve a minha ausência prolongada. Prometo escrever agora o que se foi passando e o que se vai passar com mais regularidade.



Beijinho.

Despedidas

Os meus últimos dias em Portugal foram um misto de ansiedade, angústia, tristeza, medo, enfim, um turbilhão enorme dentro de mim.
Sentia-me como se, e eu sei que a comparação é péssima, estivesse com uma doença qualquer e tivesse de aproveitar cada minutinho para estar com esta ou aquela pessoa que não iria ver nos próximos tempos, ir a este ou àquele sitio (a minha serra, o meu jardim à beira-mar) para que o seu cheiro perdurasse dentro de mim.

Tive direito a festa surpresa que foi simplesmente um máximo. Já disse que tenho amigos fantásticos? Dirigiram-me ao local sem que eu desconfiasse de nada (ok vá desconfiei um bocadinho) mas não estava à espera da dimensão do acontecimento! A decoração estava um espanto, sempre quis uma festa Marroquina.
Almofadas quadradas e grandes decoravam a entrada, por cima aqueles véus de princesa, as velas espalhadas pelo caminho davam uma atmosfera de mistério, a mesa com o fondue de chocolate não podia estar mais apetitosa e, de repente, todos vocês! Emocionei-me. Gosto tanto de todos.
Ao longo da festa tentei dar atenção a todos, dividir-me por vários nem sempre é fácil mas não queria deixar ninguém sozinho. Mas é estranho ter uma festa em que de alguma forma as atenções estão mais viradas para ti, fico um bocado embaraçada ao ser o "centro das atenções".
À medida que as horas iam passando fui vendo que algumas daquelas pessoas não ia ver durante uns bons meses e queria adiar o momento da despedida. Odeio despedidas. Soa sempre a nunca, e nunca é uma palavra demasiado forte seja ela a situação que for, além disso as despedidas fazem chorar e eu fico horrivel quando choro, cheia de pintas vermelhas na testa (isto é verídico!).

A todos os que estiveram presentes, tanto na festa, como no almoço, como no coração o meu maior sorriso como forma de agradecimento, adoro-vos!

Depois de tudo isto, fiz um jantar de família. Estava tão angustiada com a história do avião (pânico de aviões) que fiz um filme gigante por se terem sentado 13 pessoas à mesa. Estas superstições idiotas atacam-me quando estou sensível, nada a fazer. Mas tive direito a uns últimos mimos de mãe (cozinhou coisas que eu gosto), o que foi óptimo.

No dia 13, foi acordar bem cedo e ir para o aeroporto. O nervosismo era tanto que não consegui escolher nenhum livro para levar mas o facto de ir tanta gente levar-me ao aeroporto fez-me sentir que não estive tempo de qualidade com nenhum. As saudades começaram a sentir-se a partir do momento em que virei costas.

O avião levantou voo. Barcelona, here I go.